A cada 90 segundos, morre uma pessoa por doença cardiovascular (DCV) no Brasil, segundo dados do Cardiômetro, ferramenta da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) que monitora a estatística em tempo real. Apenas este ano, mais de 381 mil óbitos já foram registrados.
O número corresponde a, aproximadamente, 1.100 mortes diárias, consolidando as DCVs como a principal causa de óbitos no país. Em termos de comparação, elas são responsáveis por três vezes mais mortes do que as doenças respiratórias, 6,5 vezes mais do que todas as infecções combinadas, 2,3 vezes mais do que causas externas, como acidentes e violência, e o dobro de todos os tipos de câncer juntos.
Diante desse cenário, a SBC destaca a importância da conscientização e do acesso à informação como formas para conter essa epidemia silenciosa. Além de medidas preventivas, também destaca a necessidade de fortalecer políticas públicas que promovam hábitos saudáveis e facilitem o diagnóstico precoce a fim de reduzir a mortalidade associada a essas doenças.
De acordo com o cardiologista e diretor do centro de Parada Cardíaca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Sérgio Timerman, as mudanças no estilo de vida são as responsáveis pelo aumento no número de casos da doença, inclusive entre jovens. A rotina estressante, o sedentarismo e a má alimentação têm contribuído para a redução da idade média dos pacientes com problemas cardiovasculares.
As doenças que a cardiologia trata incluem infarto, derrame, insuficiência cardíaca, hipertensão e a doença arterial coronariana. Esta, segundo a SBC, ocupa o primeiro lugar no ranking das mais fatais no país, seguida pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Sintomas e tratamentos
Em publicação no Jornal da USP, Timerman destaca que a identificação precoce dos sintomas ajuda a evitar complicações graves. Por isso, ao sentir uma dor no peito com sensação de pressão ou aperto, que irradia para ombro, braço, pescoço ou mandíbula, o paciente deve procurar, imediatamente, um atendimento de emergência.
Esse tipo de dor, quando acompanhado de cansaço ou falta de ar, pode ser um indicativo de angina, e a rapidez no diagnóstico é fundamental para impedir o agravamento do quadro. No entanto, nem sempre ela se manifesta de forma clássica, o que pode dificultar a identificação do problema.
Em alguns casos, a dor pode ser atípica, como uma dor torácica incaracterística, e indicar um princípio de infarto. Nesses casos, o médico explica que não há como se ter tanta certeza sobre a patologia, pois o sintoma também pode indicar problema gastrointestinal, pulmonar, inflamação na parede do tórax ou um problema psicológico. O especialista informa que o ideal é sempre buscar um atendimento médico especializado
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), dispositivos médicos podem ser usados para o tratamento de doenças cardiovasculares, como marca-passo e válvulas protéticas. Além disso, em alguns casos, as operações cirúrgicas também podem ser necessárias, como a cirurgia de revascularização cardíaca, a angioplastia com balão e a reparação e substituição da válvula cardíaca.
A partir de avanços na cirurgia, procedimentos menos invasivos e mais precisos, como cirurgias cardíacas vídeo-assistidas e robóticas, estão reduzindo os impactos físicos e o tempo de recuperação, conforme explica artigo de revisão publicado no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. Essas técnicas permitem incisões menores e maior precisão cirúrgica, otimizando os resultados e minimizando os riscos.
Cerca de 80% das mortes poderiam ser evitadas
Apesar da gravidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que 80% das mortes por DCVs poderiam ser evitadas com mudanças no estilo de vida. A prática regular de exercícios físicos, a adoção de uma alimentação balanceada, o controle do estresse e a cessação do tabagismo são medidas que reduzem o risco.
Para a prevenção secundária de doenças cardiovasculares, incluindo a diabetes, a OPAS recomenda o uso de medicamentos como aspirina, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina e estatinas. Quando associados à cessação do tabagismo, é possível prevenir, aproximadamente, 75% dos eventos vasculares recorrentes.
Timerman destaca que para aqueles que já sofreram danos severos ao coração, a mudança no estilo de vida é ainda mais importante, visto que a situação pode agravar e levar o paciente à morte. “É fundamental adotar um sistema de prevenção muito mais amplo e se tratar intensivamente”, alerta.